A Construção de um Código de Conduta no Mar do Sul da China não pode ser baseada em má fé (2023)

Introdução

No mês passado, ao final das negociações com altos funcionários da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) em Pequim, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China anunciou otimisticamente que as partes concordaram em "acelerar as negociações para alcançar, o mais cedo possível, um Código de Conduta (CoC) efetivo e substancial" para governar suas atividades no Mar do Sul da China. Esta declaração veio oito meses após uma proclamação semelhante no início de 2023, e serviu para marcar mais um ano de teatro diplomático que envolve essas deliberações perpétuas. No entanto, é importante questionar a eficácia dessas negociações e a sinceridade da China em cumprir um eventual CoC. Este artigo discutirá as razões pelas quais a construção de um Código de Conduta no Mar do Sul da China não pode ser baseada em má fé.

A História de Descumprimento da China

Desde a assinatura da Declaração sobre a Conduta das Partes no Mar do Sul da China (DoC) em 2002, a China tem sistematicamente ignorado e descartado os princípios básicos do documento. A China tem agido como o único árbitro dos direitos e jurisdições nacionais, impondo sua autoridade por meio da presença constante de navios de guerra, guarda costeira e milícia. Essa postura agressiva tem resultado em uma invasão lenta e inexorável dos territórios marítimos de seus vizinhos ao longo das últimas duas décadas.

A China desrespeitou claramente as leis internacionais ao ignorar as disposições da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS) e a decisão do tribunal arbitral de 2016 que esclareceu a aplicação da UNCLOS no Mar do Sul da China. Em vez disso, a China reivindicou uma "soberania indiscutível" sobre águas que são justamente compartilhadas por seus vizinhos. A China agora age como polícia, juiz, júri e carcereiro de todos os outros países envolvidos.

A Agressão da China contra as Filipinas

Entre os países afetados pela agressão chinesa no Mar do Sul da China, as Filipinas têm sido particularmente prejudicadas. A China apreendeu e controla continuamente o Banco de Scarborough, uma das áreas de pesca mais importantes das Filipinas, desde 2012. Além disso, a China construiu uma base militar importante no Recife Mischief, a apenas 130 milhas náuticas de Palawan, a partir da qual projeta seu poder profundamente na zona econômica exclusiva das Filipinas. As Filipinas também sofrem com o bloqueio ilegal da China à guarnição naval filipina no Banco de Segunda Thomas. A China utiliza táticas beligerantes, como o uso de lasers, canhões de água e colisões com embarcações filipinas, para intimidar e isolar as tropas filipinas estacionadas nesse posto avançado solitário.

A Perspectiva de um Código de Conduta

Apesar do apoio contínuo das nações da região às negociações para um Código de Conduta, as dúvidas sobre suas perspectivas são cada vez maiores. A China já demonstrou repetidamente sua falta de compromisso com o cumprimento das leis internacionais e dos acordos existentes. A China rejeita a aplicabilidade da UNCLOS no Mar do Sul da China e viola abertamente os princípios básicos da DoC. Diante dessas evidências, é difícil acreditar que a China concordará com um CoC justo e aplicável, ou que aceitará a aplicação desse código por uma autoridade que não esteja sujeita ao seu veto.

O melhor cenário para a China seria que essas negociações prolongadas sirvam como uma cobertura política enquanto ela estende seu controle de fato sobre uma área cada vez maior de suas vastas reivindicações marítimas. A China poderia então negociar, a partir de uma posição de maior força, um acordo favorável a seus interesses, que poderia ser apresentado como superior à UNCLOS para o Mar do Sul da China, uma vez que todos os países "relevantes" tenham concordado com ele.

Conclusão

As leis e princípios que deveriam limitar a agressão da China já estão em vigor. A UNCLOS delineia claramente os direitos marítimos de cada nação, e a decisão do tribunal arbitral esclareceu sua aplicação no Mar do Sul da China, bem como as violações sistemáticas da China até o momento. A DoC de 2002 estabeleceu padrões razoáveis de comportamento aceitável entre seus signatários. Qualquer CoC aceitável deve reconhecer o descumprimento da China em relação ao direito internacional e aos acordos existentes, bem como a violação da soberania de seus vizinhos da ASEAN. Aceitar qualquer coisa menos do que isso seria sinalizar a rendição dos direitos soberanos dessas nações às demandas de um estado agressor e consentir tacitamente que a força prevaleça sobre o direito.

O Mar do Sul da China é uma questão complexa e delicada, e a construção de um Código de Conduta efetivo requer um compromisso genuíno de todas as partes envolvidas. No entanto, dada a história de descumprimento da China e sua postura agressiva na região, é difícil acreditar que um CoC justo e aplicável possa ser alcançado. A comunidade internacional deve permanecer vigilante e pressionar por uma resolução pacífica e baseada no direito internacional para as disputas no Mar do Sul da China. Somente assim a estabilidade e a segurança na região poderão ser alcançadas.

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Author: Kieth Sipes

Last Updated: 03/10/2023

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